O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva endureceu o seu discurso contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a atuação do governo no combate à pandemia causada pelo novo coronavírus e de soluções para a crise que se agrava, em uma entrevista coletiva realizada nesta quarta-feira (1).
A implementação de uma renda mínima emergencial para socorrer os trabalhadores mais vulneráveis foi um dos pontos destacados pelo ex-presidente. “O dinheiro não chega. O único dinheiro que chegou rapidinho foi o dinheiro para ajudar os banqueiros brasileiros. Esse é o dilema. Você tem um governo que não quer assumir como governo”, afirmou Lula.
Na noite da última segunda-feira (30), o plenário do Senado aprovou a proposta de criação de uma renda mínima emergencial diante do agravamento da crise econômica por conta do avanço do coronavírus no país. Para começar a valer, a medida precisa ser sancionada pelo presidente em um prazo de 15 dias.
Segundo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, em publicação em rede social, a medida foi sancionada, contudo, até as 19:30 desta quarta-feira (1), não havia sido publicada no Diário Oficial da União (DOU).
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Em um prazo otimista dado pelo governo, a renda deve começar a ser distribuída na segunda semana de abril, cerca de um mês depois do início do isolamento. “Até agora não saiu um centavo para ninguém. Para os banqueiros, R$ 200 bilhões”, afirmou Lula.
Diante desse cenário, Lula recomendou que a Câmara dos Deputados constitua comissões para fiscalizar a liberação desse dinheiro e que, ao lado do Senado Federal, tenha maior protagonismo no combate à crise do coronavírus.
O único dinheiro que chegou rapidinho foi o dinheiro para ajudar os banqueiros brasileiros. Esse é o dilema. Você tem um governo que não quer assumir como governo.
Medidas para evitar a propagação
Lula afirmou que o isolamento social é a melhor maneira de evitar a transmissão da covid-19. Durante a crise, o atual presidente vem defendendo que a melhor forma, no entanto, é o isolamento vertical, que prevê o isolamento somente das pessoas que estão no grupo de risco.
“Está difícil ver que essa crise vai passar com essas incertezas. A primeira coisa é convencer que o isolamento é a melhor forma de evitar a transmissão do vírus, mas Bolsonaro ainda duvida e continua passando dúvida para a sociedade”, afirmou o ex-presidente.
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“Tem gente que consegue ficar dois meses sem salário, tem gente que consegue ficar um mês, mas tem gente que não consegue ficar 15 dias. E já estamos há mais de 15 dias. De um lado, a prioridade do isolamento; do outro, a de liberar recursos para que as pessoas possam continuar a ter o que comer”, destacou Lula, para quem o presidente Bolsonaro tem se mostrado incapaz de realizar as duas tarefas.
“Até agora nós temos problema de máscara no Brasil, o problema mais elementar que é fazer testagem. Nem isso nós fizemos, isso é o elementar. Estão enterrando gente sem saber se é de coronavírus. Então a primeira coisa é organizar as pessoas, aportar o montante para a saúde, para cobrir as despesas dos trabalhadores e liberar esse dinheiro para começar a fluir. Nada disso foi feito.”
Para Lula, os panelaços diários desde que se iniciou a crise causada pela pandemia mostram que a sociedade está insatisfeita com a atuação de Bolsonaro. Questionado sobre um possível impeachment, Lula afirmou que é necessário provar legalmente que existe crime de responsabilidade, para não acontecer “o mesmo que foi feito com a Dilma”.
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“Eu não quero ser irresponsável como eles foram com a Dilma, sem crime de responsabilidade. Mas provando que ele tem [crimes,] nós precisamos afirmar corretamente qual é o crime que ele cometeu, porque nem tudo que eu acho que é crime é crime do ponto de vista jurídico.” Lula diz estar “convencido” de que ou Bolsonaro muda sua linha de atuação ou não pode continuar governando.
Edição: Rodrigo Chagas